Rebentos 2022 – Sessão 2 | 13 maio
O Mar Já Não Pára Aqui, 2020
Realização e Produção PEDRO AUGUSTO ALMEIDA Fotografia ANDRÉ MARQUES Montagem AMADEU PENA DA SILVA, PEDRO AUGUSTO ALMEIDA Som PEDRO CRUZ Correção de cor INÊS LOURA Elenco ARMANDO FARIA, ANABELA CARRAZEDO C. KRISTEN VON STETTEN
Neste documento singular sobre o estuário do Sado, trabalha-se o equilíbrio entre um ecossistema afetado pela pegada humana e a rotina de quem retira dele o seu sustento. A apanha de marisco, tão antiga como a presença do homem na zona da “caldeira”, serve também como motivo para um olhar sobre a paisagem, um mundo natural onde permanecem indícios de uma grandeza anterior, alguns prédios ao longe, percursos entre destroços de embarcações. Da memória do garum romano (uma pasta de peixe salgado famosa no mediterrâneo) à mais recente abundância de ostras, afetada pela poluição, o trabalho diário neste zona fértil continua, hoje, a ter os seus protagonistas. Uma destas presenças, que surge desde o mar, parece sugerir que – apesar do ímpeto destruidor do homem – é possível viver em harmonia com a natureza, respeitar os seus ciclos, devolver o que se tirou a mais e contribuir para a sua regeneração.
Afonso Matos
2610 – Bairro Zambujal, 2019
Realização e Produção HUGO BARROS Imagens de Arquivo HAMILTON DIAS Montagem HUGO BARROS Som JOÃO PONTEIRO Drone MARLON ANDRADE Elenco(entrevistas) MARIA ANTÓNIA LOPES, JOÃO PONTEIRO, GONÇA- LO GUEDES, MARLON ANDRADE, EDGAR CABRAL
A vida no Bairro não se vive de uma forma, não se vê de uma cor, não se resume a um momento e não se sente a não ser no Bairro. E Hugo Barros sabe-o tão bem como sabe do poder das imagens, conseguindo iludir-nos ao nos fazer pensar por breves momentos que estamos também nós ali, a celebrar e dançar com aquelas crianças, aqueles homens, aquelas mulheres, aquela comunidade. “2610 – Bairro Zambujal” é, mais que um retrato de uma comunidade, um convite que Hugo faz ao olhar exterior para admirar os rostos, as vozes, os sorrisos e a vida de quem vive no bairro onde cresceu. E são tantos os sorrisos que dificilmente se sai deste filme sem sorrir também e sem a vontade de poder partilhar do espírito que une estas pessoas, vindas de lugares tão diferentes. Por isso deixemos os preconceitos, “a discriminação” (palavra que mais se houve no filme), e olhemos para a forma como se vive periferia da cidade, lutando contra a opressão com um sorriso na cara e vivendo em conjunto, num mundo em que cada vez mais se rege cada um por si.
Nuno Cintra
Merlich Merlich, 2021
Realização HANNIL GHILAS Argumento HANNIL GHILAS, KARIM ALHAMYDI, AIMADE AMSKAL, KAHINA BENAKLI, CHOUCOURATI CHANFI, ARNAUD DELMARLE, MYRIAM DIARRA, WASSIM GASMI, AZZEDINE HAMADA, BISSAME MOANNA, BENDJI MHOUSSINI, INESSE NASRI, SHAFIK SARGAND, NABIL MO ZENAS- NI Produção PH’ART ET BALISES, CHYPHER FILMS Elenco KARIM ALHAMYDI, CHOUCOURATI CHANFI, KYRI- ANE AHMAD, MOMBI 3ÉME OEIL, NEGGUS, NAKI SY SAVANE, SHARON TULLOCH, DJ REBEL
A gravidade despoletada pela morte retratada pelas primeiras imagens vai sendo, progressivamente, suspensa com recurso à comédia ligeira e aos pequenos prazeres deste mundo urbano algo marginal. A figura do patriarca desaparecido parece, à primeira vista, semear o caos e a tristeza nesta comunidade islâmica de Marselha, mas tudo o que se segue – o fluxo de acontecimentos que marca a sua vida – faz com que conheçamos melhor alguns dos membros do grupo e nos interessemos, primeiro pelos seus gostos, depois pelos seus problemas. Entre as desgraças que acontecem, o acidente de carro transforma-se numa espécie de catárse através do ato de destruição. Ao contrário das pessoas, os bens materiais são recuperáveis e por isso não devemos preocupar-nos, quantas vezes demonstrando excessivo zelo, com a sua perfeição. Eis uma das coisas que esta curta-metragem poderá querer dizer. Mas se é importante esse desapego, não o deixa de ser também a recuperação do carro, no final, e a forma como ela desemboca na fala que dá título ao filme.
Afonso Matos
Thunder, 2021
Realização JANE NAGLER Produção LISA-LUNA PELLNY Argumento JANE NAGLER, DOMINIK BÖHM, ANTON DUSCHEK, LISA-LUNA PELLNY Elenco CECILIO ANDRESEN, NICOLAI BORGER
Uma curta-metragem que evoca a superação da perda através da imaginação. Recorrendo a elementos da cultura popular associados à viagem – uma bússola, um mapa, um telescópio, etc. – somos chamados a entrar na atmosfera criada por esta criança, mesmo que transpareçam dúvidas quando à causa que leva à sua partida ou ao objetivo dessa travessia marítima. Só pouco antes do aparecimento da tempestade se torna clara a relação do pequeno protagonista com uma figura ausente, que ele espera encontrar na luz do pólo norte. A passagem da imersão na água, em que termina a viagem imaginada, para o espaço doméstico permitirá reconhecer a importância da mãe desaparecida, que se torna presente, ainda, materializando-se na luz. É no regresso a casa que o confronto com a perda ganha uma outra dimensão. Toda a construção do espaço cénico e da narrativa culminam nessa sensação de que a imaginação – tão desenvolvi- da nos mais jovens – possui propriedades que a tornam capaz de subverter a realidade, ou pelo menos, pacificar o sujeito das suas feridas mais profundas, antes de este regressar, por fim, à normalidade quotidiana.
Afonso Matos
HOCCHEY TA KI?, 2021
Realização OM SINGH, MONJIMA MULLICK, SNEHA DAS, SAWANTI DAS Produção SRFTI Som JANAB ROY Luz NANDAN KUMAR, ARNAB LAHA, SIHINGKHANU MARMA Correção de Cor NANDAN KUMAR Voz SNEHA DAS
É ao por as mãos à cabeça, em jeito de preocupação, que a personagem masculina de Hocckey Ta Ki? descobre o objeto perdido que dá origem a esta pequena viagem de 2 minutos.Um objeto perdido. Uma desarrumação total. Uma mulher irritada. É do humor que parte esta narrativa simples que nos irrompe como uma lufada de ar fresco. Um episódio comum, que poderia acontecer a qualquer outro casal, em qualquer outra casa, em qualquer outra parte do mundo.A animação em stop-motion é inteligente, e parece jogar muito bem com os sons particulares e com as cores vibrantes dos objetos, transportando-nos para dentro daquela pequena casa algures na Índia. Hocckey Ta Ki? é uma viagem que, apesar de pequena, se mostra muito acolhedora e bem conseguida, aquecendo o coração do espectador e relembrando que o cinema pode ser isto mesmo: um lugar de calor.
Inês Moreira
Ficha Técnica
Direção do Ciclo Nuno Cintra
Programação Nuno Cintra, Inês Moreira, Carolina Pinto, João Reis
Produção Claraboia
Design Gráfico Ivânia Pessoa
Comunicação Joana Enes e José João Batista
Apoio Técnico Rodrigo Domingos
Folhas de Sala Afonso Matos, Inês Moreira e Nuno Cintra