Folha de Sala Rebentos’25 – 14 Setembro

Crac!, 2024

Realização e Argumento DIMITRI MARTIN GENAUDEAU Produção CLÉMENCE CRÉPIN NEEL Diretor de Fotografia NADER CHALHOUB Diretor de Som PAUL CLAEYS Diretora de Arte LUISA SENDRA Montagem DIMITRIS POLYZOS Montagem de Som VICTOR FLEURANT Mistura SYLVAIN ADAS Atores JEANNE JÉROSME, MICHEL ELIAS, PIERE SOUCHON

Crac! evoca o abandono de um pequeno besouro francês num carvalho. A comunidade vê-se expulsa da árvore que habitam pela acção humana: as árvores que a rodeiam estão a ser cortadas e a sua sê-lo-á, certamente. Por coincidência – ou sorte – um deles fica para trás, naquilo que só podemos interpretar como uma sentença fatídica, dada a tendência colectiva dos insectos. O narrador é, aliás, muito direto com a confissão de que o besouro vive uma vida muito curta. É no meio dos lenhadores que surge uma mulher campista. Monta a sua tenda na árvore do besouro, e este observa-a atentamente naquilo que se torna uma intensa paixão. A música acompanha-o, ignorando a tensão crescente do corte das árvores, que o filme nunca deixa o espectador esquecer. Ainda assim, Genaudeau deixa-nos um pouco em paz, longe da realidade.

Maria Inês Opinião

O Jardim em Movimento, 2024

Realização, Argumento e Produção INÊS LIMA Diretor de Fotografia VICTOR NEVES FERREIRA Diretor de Som ALEXANDRE FRANCO, MARCELO TAVARES, MIGUEL COOELHO, VICENTE MOLDER Montagem DIOGO VALE, INÊS LIMA Atores ANA LUÍSA MARTINS, ÂNGELO DE CASTRO, MARGARIDA PAIAS

É na Serra da Arrábida que Inês Lima encontra o seu espaço místico, na exploração da flora da própria serra. Duas guias botânicas acompanham um grupo de exploradores cansado e desinteressado. Uma das guias confunde-se perfeitamente com a natureza à sua volta: impassível (à partida), singular, digna; de olhar posto no horizonte. A sua envolvência no meio concretiza-se através do próprio nome, que não é mencionado. A música, original, é o elemento essencial nesta afeição, integrando, ainda, o elemento cómico proporcionado por uma audiência desadequada. Embora em níveis diferentes, as guias são as únicas que compreendem o espaço em que se inserem, provavelmente influenciadas por este. Inicialmente, este estabelece um vínculo entre o humano e a natureza, posteriormente rejeitado não pelo próprio, mas pelas guias, quando a pessoa se aproxima em demasia.

Maria Inês Opinião

Cinzas e Nuvens, 2023

Imagem e Som MARGAUX DAUBY Montagem RAUL DOMINGUES 2a Câmara AFONSO MARMELO Assistente de Som PAULO LIMA Gravação de Som SELIA CAKIR Mistura ALEA JACTA Correção de Cor THIBAULT SOLINHAC DCP CÉSAR PEDRO

Olhar a serra sabendo que poderá não durar muito tempo é um segredo mal guardado no interior. Filmado na Serra da Gardunha, nos concelhos do Fundão e Castelo Branco, Margaux Dauby acompanha o minucioso trabalho das torres de vigia onde se observa a montanhas, à espera que surja uma grande mancha de fumo ou que chegue um dos que deflagra já numa das outras serras que nos rodeiam. Sabemos que está perto quando o astro do pôr-do-sol é avermelhado. Cinzas e Nuvens podia ter sido filmado no ano de 2025 quando, mais uma vez, arderam estes espaços – Alcongosta, S. Vicente da Beira, outros hectares. O filme é feito tal como o combate aos incêndios – com película de sobra e olhares cansados. Ao contrário do que estamos habituados, Dauby filma um antes e um depois, abstendo-se da desgraça em si. Não se interessa pelas chamas, eucaliptos, mangueiras verdes e baldes velhos. O aviso é inaudível, ainda que os pássaros se comecem a misturar com helicópteros e centrais de controlo cheias de homens. O resultado, a curto prazo, é terra queimada entre terra que se safou, uns que tiveram sorte em prol dos outros. O trabalho é solitário e Dina, Adriana, Helena, Ana Paula, Luísa, Cândido, Cristina, Dulce, Lídia, Inês, Fátima, Francisca, Vera, Zé e Maria etc voltar-lhe-ão – ao som do vento, que é mau presságio.

Maria Inês Opinião

Sphere Supreme, 2024

Realização, Argumento e Animação HASAN PASTACI

from the river to the sea, Palestine will be free

Arama cresce sob uma romanzeira e é transformado pelo sabor da mesma. As suas visões passam de papagaios de vento para polvos, conhecido como um animal adaptativo. Encontra-se com alguém misterioso que lhe dá algo a provar. Quebra-se a sua confiança em forma de romã, naquilo que pode ser interpretado como o abandono da infância. O próprio destrói-se com a romã que, sem a sua estrutura contida, se espalha por todo o lado, imoldável, apesar de fragilizada, na ocasião ideal para se transformar.

Maria Inês Opinião