Folha de Sala Rebentos’24 sessão 7
REGRESSO, 2023
Realização, Animação e Produção LUCAS Música BERNARDO MELO Edição JÚLIA EBERT JUNQUEIRA E LUCAS
Regresso é uma curta animação criada por Lucas e que acompanha a última faixa do EP Quem me Retira os Problemas da Saudade do compositor Bernardo Melo. Ao som das teclas dopiano, o espaço renova-se continuamente, como que por efeito de reverberação, umas coisas contagiando outras, puxando para que se transformem. Nem linhas retas são estruturas fixas – certamente sabem dar forma e sustentar um quarto, uma janela, uma secretária, mas não enrijecem nessas posições e logo se desmancham para seguir a dança da metamorfose que Lucas para elas inventou. A este baile que parece, por vezes, soprado por alguma brisa que tudo faz espiralar, juntam-se texturas que se acumulam, se sobrepõem, se rasgam, se amarrotam ou se desdobram – talvez sejam as camadas de pele deste corpo que é Regresso, um corpo que mergulha em si, onde a paisagem é vasta, um corpo que encontrando o isolamento, aproveita para com ele criar melodias.
Vera Barquero
PEEL THE DIMENSIONS, 2024
Realização, Animação e Desenho de Som KIM JAEHYEON Música KIM MINSEO, PARL JIWON E YUN SEONGGYEONG
Como uma laranja, descasca-se a perceção, abrimos a fruta e surpreendemo-nos com o que colhemos – talvez hoje o sumo que bebemos possa ser de estrelas – ou olharmo-nos ao espelho nos devolva uma imagem de nuvens, sem formas distintas, a serem lentamente passeadas pelo
vento. Em Peel the Dimensions percorremos um breve caminho etéreo e não-linear. Exploram-se formas e experimenta-se o que aconteceria se lhes tirássemos a pele exterior, ou se as tornássemos translúcidas – o que veríamos além de uma primeira camada? O que poderíamos encontrar depois do invólucro? Testam-se ideias, brinca-se com planos geométricos no espaço em sucessivas telas que rimam umas com as outras, pela continuidade das cores e pelo ressurgimento dos elementos figurativos – laranjas, nuvens, estrelas. O som é linha de costura que une os diferentes retalhos numa só peça, e entre assobios de pássaros e tilintar de guizos, o que nos entra pelos ouvidos cria o ambiente para nos perdermos em miragens.
Vera Barquero
1/2=1, 2023
Realização, Argumento e Direção de Fotografia LUÍSA ALEGRE Produção MARIANA MACHADO Assistência de Produção JOANA CARREIRA Composição Música JOÃO MENDES PINTO Mistura de Som DINIS HENRIQUES Montagem LUÍSA ALEGRE E MARIANA MACHADO Com a participação de BÁRBARA SOUSA, GUILHERME AMORIM LOPES E LUÍSA ALEGRE Processo de Cianotipia BEATRIZ DE ALMEIDA E LUÍSA ALEGRE
Nas margens de um rio dois corpos encontram-se e nós, sem saber como cá viemos parar nem o que pode acontecer, percebemo-nos neste seu pesadelo azul. Em breve acordaremos e tudo estará bem, mas enquanto povoarmos este sonho, não entendemos nada. 1/2=1 é um rodopio onírico experienciado a cianotipia que lembra Edgar Morin. O teórico francês, no seu livro O Cinema ou o Homem Imaginário, explora as intimidades entre a linguagem do cinema e a do sonho – em ambos, espaços/tempos seguem as suas próprias regras, distintas das da realidade acordada; basta um simples corte e estamos noutro lugar. Parte da magia do cinema é precisamente conseguir gravar fragmentos da realidade e transformá-los depois, com os efeitos e truques de que dispõe, em algo diferente e distante das imagens iniciais – um processo não assim tão desconhecido para as nossas cabeças. Neste sentido, pode dizer-se que há também uma certa magia dentro de nós, materializada nessa capacidade de imaginar e criar mundos outros no nosso interior, esse “pequeno cinema que temos nas nossas mentes.” (Morin, Edgar. O Cinema ou o Homem Imaginário, pág. 125).
Vera Barquero
O BANHO, 2022
Realização, Argumento e Direção de Fotografia MARIA INÊS GONÇALVES Produção MARIA INÊS GONÇALVES, ELÍAS QUEREJETA
ZINE ESKOLA Composição Música MARGARIA GONÇALVES, MEADOW BROOKS Montagem MARIA INÊS GONÇALVES, DIOGO
VALE Som INÊS ADRIANA Elenco JÚLIA NEUPARTH, ANA CAROLINA DIAS CORTEZ, DIOGO BOTELHO, RAQUEL BOTELHO,
RAQUEL SEABRA
Banho de Maria Inês Gonçalves evoca-nos visualmente para o universo da água, nas suas mais variadas formas. É num conjunto de belos planos filmados em película de 16 mm que nos aproximamos da ideia de vida como um ciclo, desde a infância à velhice, com princípio meio e fim. O ato de tomar banho é um daqueles que nos acompanha ao longo de todas as nossas fases, quando somos “pequeninas, acabadas de nascer” até “quando formos velhinhas, acabadas de morrer”. E, neste ato, podem estar contidas as mais diversas sensações e emoções e as nossas memórias para com ele podem ser múltiplas e variadas, tendo em conta a quantidade de banhos que tomamos ao longo da vida. Maria Inês Gonçalves traz-nos este poema visual onde a fragilidade do ser humano é posta em evidência, e existe uma reflexão sobre vida e morte, e onde ideias opostas são filma-
das lado a lado como se na verdade estivessem mais próximas do que podemos imaginar: infância e velhice, segurança e medo, magia e perigo. .
Inês Moreira
WETSUIT, 2022
Realização e argumento JOÃO SALGADO Produção LONDON FILM SCHOOL, MARIA MARTINS, MATHILDE JOUAUD Direção de Fotografia PABLO GARRIDO CARRERAS Direção de Som ALIKIVANÇ GULDURUR Montagem HANNAH OWEN Elenco JOÃO GAIVÃO, JOÃO BERBERAN, NUNO LOPES; KRISTIAN V. SOUSA, JOSÉ ARIA BISPO, MARIA CHES, MARTIM FERON, SIMÃO SILVA; EVA FISAHN, GONÇALO APOLINÁRIO
Uma curta-metragem em três partes que nos fala sobre o crescimento, a identidade masculina e os fantasmas que esta carrega. Um fato molhado que serve de capa de proteção para estes rapazes que só se sentem livres quando entram nas ondas do mar.
Mas que fato é este exatamente?Esta ideia de que na verdade usamos vários fatos ao longo da nossa vida está muito presente ao longo das três partes do filme. Nem sempre é fácil conjugar todas essas facetas que existem dentro de nós, muito menos quando existem ainda umas outras tantas que nos são impostas pela sociedade e às quais temos de corresponder. Wetsuit reflete sobre todos estes fatos, sobre estas peles que vestimos, principalmente, nas nossas relações com o outro. E fá-lo, remetendo-nos, sobretudo, para o tempo da adolescência, onde a descoberta e a procura estão no seu expoente máximo e qualquer vislumbre de intimidade pode ser muito intimidante.
Inês Moreira
POSTAIS DO OCEANO ATLÂNTICO, 2023
Realização, Imagem e Montagem HENRIQUE BRAZÃO Assistência de Realização CAROLINA GOMES-TEIXEIRA Interpretação MARIÇA DA SILVA E MARIANA VIEIRA Gravação de Som CAROLINA GOMES-TEIXEIRA, INÊS ADRIANA E MARIÇA DA SILVA Correção de Cor LAURA MORENO Design RODRIGO SILVA
Fragmentos de um território rodeado de mar, postais às vezes estáticos, às vezes em movimento, mas sempre o lado da imagem, nunca o da mensagem que normalmente se escreve por trás. As únicas vozes que ouvimos são as de alguém que apenas diz “Funchal”, logo seguido de um cantarolar murmurado que nos recebe no início e, mais tarde, um jingle da rádio local. Num filme quase sem palavras, os nossos olhos são convidados a demorar-se na paisagem e a agarrarem- se a subtis detalhes, como que folheando um antigo álbum de fotografias com carinho – um álbum que, mais do que pessoas, retrata um local, o percorre e o mapeia, e nos entrega um trajeto contemplativo da cidade do Funchal. Mediada através de diferentes câmaras, este passeio é feito em qualidades de imagem variáveis, ora mais granuladas ora mais definidas, dando a ideia de que saltitamos entre espetros do presente e do passado, ou talvez, que se criam no presente as futuras memórias, e que espreitar o mundo pelo visor da câmara parece dobrar o agora, e aproximar diferentes temporalidades.
Vera Barquero
À MARGEM DA LINHA, 2023
Diretora de Produção CRISSTINA CARMO Chefe de Produção FRANCISCO RIBEIRO Realizadora FILIPA DUARTE Diretor de Fotografia TOMÁS TRAVELHO Assistente de Imagem DIOGO RODRIGUES Diretora de Som ARIANA VIEIRA Assistente de Som NARCISA BLEJERU Anotador/Montador GONÇALO MATINS
À Margem da Linha retrata a cidade de Lisboa através das suas duas principais linhas de comboio: a de Sintra e a de Cascais. É quase como se estivéssemos perante uma sinfonia da cidade, na qual o meio principal é o comboio e é este que nos leva para os diversos sítios e para as diversas ideias que a realizadora nos quer transmitir. O contraste entre as pessoas e os lugares que rodeiam a linha de Sintra e a linha de Cascais acaba por ditar o ritmo do filme: num lado segregação e caos e no outro ordem e ostentação. Ao olhar o filme, há uma frase que imediatamente nos vem à cabeça: uma imagem vale mais que mil palavras.
Inês Moreira
ASTERIÓN, 2022
Realizador FRANCESCO MONTAGNER Produção VERONIKA KUHROVÁ, MICHAL KRACMER Diretor de Fotografia MICHAL
BABINEC Montador JORGE SÁNCHEZ CALDERÓN Direção de Arte PILAR GOMEZ ANGULO Elenco JOSE LUIS MARTÍN MORO
A taxidermia, técnica de preparar cadáveres de animais para resistirem à decomposição, é um processo meticuloso, trazido em Asterión através de planos silenciosos e muito fechados. A reconstrução de um touro é entendida como uma reconstrução da ideia de que ninguém dura para sempre, que tudo é efémero, mas que não há nada que possamos fazer se não vivermos com essa ideia. Ao longo do filme, dá-se uma espécie de metamorfose homem-touro que intensifica esta ideia de mortalidade, e do medo da morte mas que acaba por suavizá-la colocando-nos em paz com ela. O ser humano, também ele, quer resistir à decomposição do tempo mas na imagem do touro parece encontrar uma forma de lidar com este sentimento.
Inês Moreira
Ficha Técnica:
- Coordenação: Carolina Pinto e Nuno Cintra
- Programação Rebentos: Carolina Pinto, Fábio Silva, Giuliane Maciel, Inês Moreira, Nuno Cintra e Vera Barquero
- Coordenação Rebentinhos: Laura Lemos
- Direção Técnica: Rodrigo Domingos
- Comunicação: Giulia Dal Piaz e Joana Enes
- Design: Ivânia Pessoa
- Financiamento: Câmara Municipal de Sintra, ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual e IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude
- Apoio: teatromosca
- Agradecimentos: Divisão de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Sintra, Escola Básica Maria Alberta Menéres e Escola Secundária Leal da Câmara