Folha de Sala Rebentos’24 sessão 2

YAGHISH, 2023

Realização e Argumento FARSHID HEMMATZADEH Produção MOHAMMAD HOSEIN ARAMIDEH Elenco ASRA KHEYRIAN, MOHAMMAD HOSEIN ARAMIDEH Imagem HOSSEIN ABDI Som MOUSA HEMMATI Montagem HOSSEIN ABDI

Sobre as colinas do Irão, imprime-se a questão: onde é o lugar da mulher? O rosto delicado mas sério que surge no espelho e nos olha pede uma nova resposta. As mãos que entrançam o cabelo com cuidado, num ritual de começo de dia, não parecem as mesmas que guiam as ovelhas campos fora. Mas, mesmo na rudeza do trabalho, os movimentos de criança permanecem – um abrir dos braços como se voasse. Proibida de ir à escola, Yaghish olha o mundo à sua volta e sonha com tudo o que há por conhecer. É o olhar de um professor atento a sua salvação. Em procissão, a escola caminha até Yaghish e os campos transformam-se numa sala de aula a céu aberto.

POBRE ANTÓNIO, 2021

Realização MARIANA GUERREIRO FERREIRA, EUDALD ROJAS LUÍS  Argumento EUDALD ROJAS LLUÍS, ELISA ALBANELLI, LUCÍA GUTIÉRREZ RICO  Produção MARIANA GUERREIRO FERREIRA, VALERIA SALINAS YÁBAR  Direção de Fotografia DIEGO AVEIGA  Som GONÇAL PERALES

António é um homem de poucas palavras. Vai trabalhar todas as noites no mesmo sítio, onde repete os mesmos gestos e vê as mesmas coisas. Volta a casa de manhã para junto da mulher e do filho. Come o mesmo tipo de comida e vê os mesmos programas de televisão. No dia seguinte, repete-se tudo outra vez. A vida vai passando como o lixo no tapete rolante do seu trabalho. A rotina torna-se tão alienante que começa a ter visões. Num delírio que impõe a comicidade sobre o tédio, o filme reverte a impotência do homem trabalhador. Todos os seus sonhos e desejos materializam-se no lugar do lixo. Abre-se um portal mágico na vida deste homem, em que um gesto do dia-a-dia aparentemente inconsequente se transforma num poder mágico. O botão verde, tão pouco expressivo antes, é a cada clique a descoberta de poder escolher, decidir. O mundo de António enche-se de música e ele é finalmente o maestro.

ESQUECI-ME QUE TINHA MEDO, 2023

Realização e Argumento DIOGO BENTO  Direção de Produção HENRIQUE FERREIRA MARQUES  Elenco MIGUEL FREIRE, ANA MARTA FERREIRA

Bruno vive preso num mundo cinzento e sombrio. Neste universo expressionista, que nos leva de volta aos filmes mudos, a rotina é sempre a mesma. Os dias sem cor confundem-se uns com os outros. É uma realidade virada ao avesso, em que a vida e a cor para além daquelas quatro paredes é que são o pesadelo. Um mundo de cor onde o amor é possível impõe-se lá fora, ao alcance da mão, mas o medo fala mais alto e não deixa abrir a porta. Mesmo assim, a cor entra de rompante e destrói toda a ordem instalada. O medo, como faz desde que somos pequenos, empurra-nos para um armário escuro onde ficamos escondidos até o mal ir embora. Mas não há como escapar e ouve-se de novo um bater à porta. A vida lá fora chama outra vez. O caminho é atormentado até Bruno conseguir sair do mundo estreito em que se prendeu. Como num conto de fadas, o amor chega como o feitiço que quebra todas as maldições e a porta abre-se.

FORA DE MIM, 2022

Realização e Produção DAVID GRENHO, MÁRCIO VALENTE  Som ANA CAMILO, DAVID GRENHO, MÁRCIO VALENTE

As luzes acendem e prepara-se o cenário. A personagem está a postos. Ação! Como num mundo imaginado em que os nossos brinquedos ganham vida quando não estamos a olhar, acorda. Erguem-se as sobrancelhas, os olhos abrem e a boca prepara-se para um assobio. A comédia é palpável desde o início neste corpo expressivo e desajeitado, que tanto tropeça em peripécias e acidentes. Neste filme dentro de um filme, o cinema revela-se constantemente e entranha-se no dia de azar de um homem, a quem tudo acontece, culminando na descoberta do que existe fora de si. O que descobre é precisamente o mundo estranho do cinema que rodeia e molda o único mundo que achava ser verdadeiro. Levando-nos, com sentido de humor, numa viagem entre esses dois universos, “Fora de Mim” entra em jogo consigo mesmo, numa brincadeira do gato e do rato entre os realizadores e o seu personagem. No fim, não sabemos bem quem apanha quem.

LIGHTS, 2024

Realização e Argumento JITKA NEMIKINOSOVÁ  Direção de Produção VERONIKA KUHROVÁ, MICHAL KRÁCMER Som JIRÍ GRÁF, MICHAEL VANĚK  Montagem JITKA NEMIKINOSOVÁ, DARIA CHERNYAK Música MAXMILIÁN HRUSKA

O som quase industrial envolve-nos, chamando-nos para este mundo pontuado por sinos. As chamas avermelhadas são o único contraste aos tons azuis da cidade. É a noite da cerimónia em que todas as jovens chamas são transformadas em lâmpadas – um ritual de passagem à vida adulta, em que se deixa o corpo e a luz da infância para trás. O fogo, indomável e imprevisível, tem de ser contido. Faz-se a troca por um fato mais respeitável e neutro, pouco dado a descontrolos. Quando olhamos em volta, percebemos que todos vestiram o mesmo e as chamas vão-se apagando uma a uma. Esta é a história de uma pequena chama que se recusa a seguir o caminho já traçado para si. Impedindo que o fogo se extinga, agarra nele e foge para fora dos muros da cidade, para longe da conformidade. É a rebeldia da adolescência que tão bem conhecemos, capaz de manter vivas muitas chamas mas também de incendiar aquilo por que passa.

Laura Lemos

Ficha Técnica:

  • Coordenação: Carolina Pinto e Nuno Cintra
  • Programação Rebentos: Carolina Pinto, Fábio Silva, Giuliane Maciel, Inês Moreira, Nuno Cintra e Vera Barquero
  • Coordenação Rebentinhos: Laura Lemos
  • Direção Técnica: Rodrigo Domingos
  • Comunicação: Giulia Dal Piaz e Joana Enes
  • Design: Ivânia Pessoa
  • Financiamento: Câmara Municipal de Sintra, ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual e IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude
  • Apoio: teatromosca
  • Agradecimentos: Divisão de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Sintra, Escola Básica Maria Alberta Menéres e Escola Secundária Leal da Câmara