Foi assim que aconteceu… Decomposição – Mostra de compositores emergentes – 2ª edição

10 Janeiro 2024, 21h  |  Centro Cultural Olga Cadaval – Auditório Acácio Barreiros, Sintra

A ideia para o “Decomposição” nasceu em 2021 da necessidade de responder à lacuna de oferta cultural no Concelho de Sintra, na área da composição de música contemporânea, e de captar novos públicos, que não apenas o dos profissionais das artes musicais.

Arrancou com um Open Call entre outubro e novembro de 2023  dirigida a artistas emergentes, e após o processo de selecção, foram quatro as peças vencedoras: ” -grafia”  de Mart Domingues, “Antologia” de Pedro Beirão, “Estudo Acusmático” de Cristóvão Almeida e “Pérola ao Vento” de Mariana Marques Coelho

Antes de cada actuação, os compositores partilharam com o público o conceito que originou a peça e o seu processo de criação. No fim, houve lugar a uma conversa onde o público foi convidado a lançar questões aos compositores, procurando desmistificar algumas ideias preconcebidas de sonoridades aleatórias, frias e descompassadas, normalmente associada à música contemporânea. “Decomposição” desafia ao diálogo e à reflexão sobre as novas estéticas artísticas contemporâneas emergentes, aproximando artistas e público.

A música moderna erudita aparece na nossa imaginação colectiva rodeada de barulhos estranhos, melodias frias e harmonia que nos afasta, uma festa para a qual não fomos convidados e que pouco nos tem a dar- nem a pedir.
Numa era onde a transparência e divulgação permeiam as nossas vidas, a aparente opacidade deste meio académico- talvez pesado, talvez até elitista- causa estranheza. Haverá espaço para o público na música moderna? É possível escutar uma obra musical de um compositor assumidamente erudito sem se ter anos de experiência de conservatório – e mesmo assim experienciá-la enquanto uma forma de expressão genuína?
Ao longo desta 2ª edição de Decomposição, 4 peças de 4 jovens compositores escolhidos por um painel de júris vão fazer por responder às nossas perguntas através de palavras e música.
Desde a electrónica solo e os seus vislumbres de futuro tecnológico até ao quarteto de cordas (porventura o ensemble mais historicamente carregado para qualquer compositor nos últimos 200 anos) teremos uma oportunidade única de explorar a música contemporânea e os seus intervenientes, encontrando decerto ao longo da nossa investigação e escuta momentos de ingenuidade, de criatividade e de beleza.

Tomás Larisch Frazer – Coordenador de programação

Marta Domingues | -grafia

Há uma partilha intrínseca, entre compositor/a e performer, quando se trabalha numa peça. Esta não foi excepção, mas ao contrário de muitas, existiu desde início um caminho bastante claro sobre o rumo dela.
Quando falamos de música, falamos obrigatoriamente de som. Se falamos de som, obrigatoriamente falamos de gesto. “-grafia” tem como embrião esta vontade de potenciar o som através do gesto, amplificando todos os detalhes sonoros e visuais que ele acarreta. A ocupação sonora do gesto.

Marta Domingues (n. 2000) é licenciada em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa. Actualmente encontra-se na mesma instituição a terminar o Mestrado em Composição sob a orientação dos compositores Jaime Reis e Annette Vande Gorne, com quem estuda regularmente em Bruxelas, e a frequentar em simultâneo o Mestrado em Ensino da Música com o compositor Carlos Caires.
Colabora na organização do Projecto DME e Lisboa Incomum desde 2020.
A sua música tem sido apresentada em contextos como: DME / Lisboa Incomum, Música Viva/ Oculto d’Ajuda, Aveiro Síntese, BoCA – Biennal of Contemporary Arts/ Teatro São Carlos, Sonorities Belfast, Teatro do Bairro Alto e Fundação Calouste Gulbenkian, L’Espace du Son (Bruxelas, Bélgica), International Confederation of Electroacoustic Music CIME/ICEM (Bourges, França), Monaco Electroacoustic, Young Euro Classic (Berlim, Alemanha), Echoes Around Me (Viena, Áustria) Soundspaces (Malmö, Suécia) e Supersonique (Marselha, França).
Recebeu uma menção honrosa no concurso Métamorphoses 2020 (Bélgica), foi premiada no concurso Young Lion*ess of Acousmatic Music (Áustria) e a sua peça “Aspen Tree” para acordeão e electrónica foi recomendada na categoria Sub-30 no âmbito 69ª edição da Tribuna Internacional de Compositores (Holanda).
A sua música está publicada pela Influx/ Musiques et Recherches (Bélgica) e edições DME/Lisboa Incomum.

  • Composição e interpretação: Marta Domingues
  • Percussão: Francisco Cipriano
  • Duração: 8 minutos

Pedro Beirão | Antologia

Antologia é uma colecção de 12 pequenos números para quarteto de cordas. Cada um destes desenvolve uma técnica ou ideia musical específica. Em Antologia usei a descontinuidade como premissa criadora. A partir dessa mesma descontinuidade, procurei criar continuação, consequência, memória e forma. Dedico esta peça aos Motins de Stonewall.

Pedro Beirão (n. 1997, Moura) é músico, compositor e professor (Análise e Técnicas de Composição, História da Música, Formação Musical). É professor no Conservatório da Metropolitana e no Conservatório de Lisboa, ocupando também neste último a posição de coordenador do departamento de disciplinas teóricas. Licenciou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou com João Madureira, Sérgio Azevedo, António Pinho Vargas e Carlos Marecos, e é Mestre em Ensino de Música pela Universidade de Aveiro, onde estudou com Sara Carvalho. Adicionalmente, aprendeu ainda com Lino Guerreiro, Ivan Moody, Jorrit Tamminga, Wim Henderickx e Caroline Shaw (Prémio Pulitzer de Música em 2013). Para além destas atividades, Beirão dedica-se à fotografia analógica amadora e tem crítica artística publicada nas revistas Forma de Vida e Brotéria.

  • Composição: Pedro Beirão
  • Violino I: Teresa Julião
  • Violino II: Leonor Palha
  • Viola: Milan Radočaj
  • Violoncelo: Nika Vremšak
  • Duração: 12 minutos

Cristóvão Almeida | Estudo Acusmático

“ Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura — o objecto — que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência. ” Michel Seuphor (2021)

Cristóvão Almeida, ingressou na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) em Castelo Branco, onde completou a Licenciatura em Música, variante de Formação Musical, Direção Coral e Instrumental (FMDCI) em 2022.
Atualmente, prossegue o seu percurso académico na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) com uma segunda licenciatura em Composição, onde estuda atualmente com Carlos Caires.
Enquanto compositor, a sua peça “Until Quantum” foi seleccionada no âmbito do projecto “Música em Criação” para apresentação nos Reencontros de Música Contemporânea 2023, organizados pela associação Arte no Tempo no Teatro Aveirense.
Integra as equipas de produção do Projecto DME, Lisboa Incomum e EMSCAN.

  • Composição e interpretação: Cristóvão Almeida
  • Duração: 7 minutos

Mariana Marques Coelho | Pérola ao Vento

Pérola ao Vento é sobre a beleza da fragilidade e sobre a constante persistência, apesar da sua condição delicada, de permanecer, sem desvanecer. É sobre um suspiro que nunca é suficiente para esmorecer a paisagem, nem recuperar o folgo. É, acima de tudo, um agradecimento ao vento e às pérolas que persistem.

Mariana Marques Coelho é uma compositora e professora da Póvoa de Varzim, nascida em 2001. Estudou piano na Escola de Música da Póvoa de Varzim, onde em 2016 lhe foi atribuído o Prémio de Excelência de Santa Cecília. Frequentou o curso de Licenciatura em Composição na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, tendo sido aluna dos professores e compositores Daniel Moreira, Dimitris Andrikopoulos, Pedro Santos e Rui Penha. Atualmente, encontra-se a realizar o Mestrado em Composição, na mesma instituição, com a professora e compositora Ângela da Ponte.
Recentemente, em Novembro de 2023, viu a sua peça “5 Quadros sobre o Mar e a Serra” tocada pela Orquestra Clássica do Centro, sob direção do maestro Diogo Costa, na Sé da Guarda e no Pavilhão Centro de Portugal. Conta ainda com obras escritas para diferentes formações e estreadas e apresentadas no Teatro Helena Sá Costa, Ermo do Caos, Igreja de Campanhã, Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (Manifestações Paralelas), entre outros.
É performer eletrónica e pianista do Ensemble ECCO desde 2021. Em 2022, co-fundou o Ensemble Contemporarte, do qual faz parte da organização, e cujo principal objetivo passa por encurtar a distância que há entre músicos e compositores, de forma a tornar o trabalho mais colaborativo, e, acima de tudo, fazer música contemporânea. Em 2023, organizou o 1º Festival de Composição e Música Contemporânea da ESMAE.
É professora do ensino artístico da disciplina de piano na EMARA – Escola de Música.

  • Composição: Mariana Marques Coelho
  • Flautas: Teresa Costa, Célia Silva e Mariana Portovedo
  • Duração: 8 minutos

Ficha técnica e artística: 

  • Conceito: Nuno d’eça 
  • Coordenador de programação: Tomás Larisch Frazer 
  • Júris: Ana Seara, Ana Roque e Nuno Penha
  • Compositores: Cristóvão Almeida, Mariana Marques Coelho, Marta Domingues e Pedro Beirão
  • Interpretes: Célia Silva, Cristóvão Almeida, Francisco Cipriano, Leonor Palha, Mariana Portovedo, Marta Domingues, Milan Radočaj, Nika Vremšak, Teresa Costa e Teresa Julião
  • Coordenação de produção: Joana Enes
  • Produção: Ivânia Pessoa, Mariana Gavela e Rita Teixoeira
  • Direção técnica: Rodrigo Domingos
  • Comunicação: Giulia Dal Piaz e Joana Enes
  • Design: Mariana Correia e Ivânia Pessoa
  • Cobertura fotográfica: João Beijinho
  • Vídeo: Diana Matias e Nuno Cintra
  • Promotor: Claraboia
  • Parceiros: Dínamo Associação de Dinamização Socio-cultural, Associação Apertum Ars
  • Apoio: Câmara Municipal de Sintra e DGArtes – República Portuguesa
  • Agradecimentos: Centro Cultural Olga Cadaval, Câmara Municipal de Sintra