
A exposição Sobre Azul está visitável durante todos os dias do festival.
Curadoria
Ivânia Pessoa, Nuno Trigueiros
Sinopse por Nuno Trigueiros
Cada obra aqui apresentada é um vestígio de emoções que ganham forma em pintura e desenhos num mundo que existe apenas no instante em que o olhamos. “Sobre azul” reúne artistas que, em gestos, cores e formas diversas, procuram capturar fragmentos daquilo que escapa à realidade tangível. Embora distintas em temas e técnicas, estas obras partilham a mesma essência: o desejo de transformar percepções em matéria, emoções em cor, pensamento em espaço. Na diversidade, forma-se uma geografia comum. O visitante percorre territórios afetivos, atravessa mares interiores, encontra memórias que talvez não sejam suas, mas que ressoam como se fossem. O que aqui se apresenta não é uma paisagem da floresta nem da cidade, é uma paisagem do olhar, construída pela soma de múltiplos mundos interiores.
Artistas
Pintura
Brecht De Vleeschauwer é fotógrafo, é jornalista e é pintor.
Foca-se frequentemente na migração, nas fronteiras, no futebol fora de campo e em animais de formas estranhas.
Fotografia
cláudia simões (n. 1998), é uma artista multidisciplinar, oriunda de Sintra, que vive e trabalha atualmente na cidade do Porto. Licenciada em Arte Multimédia, na vertente de Fotografia, mestre em Crítica, Curadoria e Teorias de Arte e pós-graduada em Discursos de Fotografia Contemporânea pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
A artista descreve o seu trabalho como fruto de uma constante relação com o mundo natural e, por conseguinte, espiritual. Assume as suas capacidades de superação e crescimento como intimamente conectadas às suas emoções, que estão, por sua vez, enraizadas à sua criatividade. Articulando conceitos como luto, memória, ausência, organicidade e imaterialidade, reconhece-se como uma «agricultora de nitrato de prata», onde o semear, a espera e a contemplação são elementos imprescindíveis à sua expressão autoral (principalmente) na fotografia, muitas vezes alternativa e experimental, e que envolve a “colheita” e recolecção de artefactos da Natureza.
Durante o seu percurso tem vindo a desenvolver um profundo interesse pela inconvencionalidade da «imagem» e «fotografia», teorizando-as e investigando as diversas possibilidades que esses conceitos lhe permitem, nomeadamente na sua experimentação. Considera que o que há de mais interessante na prática fotográfica é a sua não-durabilidade, por tudo na Natureza ser fotossensível. No seu processo reflete acerca da efemeridade através do único meio reconhecido como o que estagnará o memento mori. É nas diversas caminhadas que a sua prática lhe exige, no sair porta fora e no experienciar o movimento de todas as coisas, que cláudia simões considera que a parte integral do que se é reside, no «espaço-entre» – nas folhas, terra e pedras que traz consigo como memória de que o fluxo é eterno, mas também os rios um dia pararão de correr. A caminhada é, portanto, o factor fulcral no seu processo, enquanto experiência única contida num espaço-tempo fugaz, e que se relaciona com a sua não eternidade enquanto ser-consciente.

Olho nu #02, Acrílico sobre tela, 92 x 73 cm, 2025
Pintura
Nascida em 1991, em Setúbal, licenciou-se em Artes Visuais – Pintura, na Universidade de Évora em 2014, tendo frequentado um ano Erasmus nos Países Baixos.
Expôs individualmente na Fábrica Features, em Lisboa, 2021, e na Galeria João Pedro Veiga, na Golegã, em 2020.
Expôs, recentemente, nas exposições coletivas: “Atlas of ideal landscapes”, Galeria Campo Pequeno, Lisboa, 2022; “In Betweenness”, Galeria Campo Pequeno, Lisboa, 2021; Lisbon Art Weekend, Azan/Tomaz Hipólito, Lisboa, 2020; “Amália”, Galeria António Prates, Lisboa, 2020; Bienal da Vidigueira, 2018.
Pintura, Desenho
Sofia P. Cabañas (1999, Viseu) é licenciada e mestre recente em Artes Plásticas pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, Portugal.
A sua prática desenrola-se no espaço entre a introspeção, a impermanência e uma inquietação silenciosa. As emoções emergem suavemente, guiadas mais pela intuição do que pela intenção. Em vez de fixar significados, o seu trabalho procura evocar sensações fugazes—estados de espírito que se transformam, dissolvem e reformam. A melancolia permanece, não como um fardo, mas como um sussurro—um vestígio de algo sempre fora de alcance. Existe uma tensão contínua entre presença e ausência, entre o que é visível e o que se sente por baixo da superfície. O espectador é convidado a entrar numa paisagem sensorial, onde cada encontro pode desbloquear uma leitura diferente, uma emoção distinta. O trabalho de Sofia abrange pintura, desenho, escultura, som, escrita e, mais recentemente, modelação 3D—cada meio funcionando como um fio distinto na sua exploração contínua do efémero.